ESBOÇO

Teus lábios inquietos
pelo meu corpo acendiam astros...
e no corpo da mata
os pirilampos
de quando em quando,
insinuavam
fosforecentes carícias...
e o corpo do silêncio estremecia,
chocalhava,
com os guizos do cri-cri osculante
dos grilos que imitavam
a música de tua boca...
e no corpo da noite
as estrelas cantavam
com a voz trêmula e rútila
de teus beijos...
[Gilka Machado]

o post de hoje é um poema do livro sublimação (1965), da gilka machado. eu descobri a obra dela lendo a correspondência do manuel bandeira com o mário de andrade. eu gostei muito. anos atrás, eu queria a obra completa dela e eu fiz um tour pelos sebos de são paulo. eu não consegui a obra completa ou qualquer livro dela, mas eu li vários poemas na internet. eu li também que ela sofreu um pouco de preconceito por escrever poemas éroticos. são poemas delicados, nem um pouco vulgares. esboço é um dos poemas eróticos dela, mas ela não escreveu só poemas eróticos. confira aqui.

AS PÉROLAS

O mercador dizia-me que as pérolas deste colar levaram dez anos a ser reunidas. Pequenas pérolas - de que mares? de que conchas? - menores que lágrimas, apenas maiores que grãos de areia, transpiração das flores. Talvez o mercador mentisse. Mas a própria mentira não perturbava a beleza das pérolas. E eu via dez anos, de mar em mar, em muitas mãos, escuras e magras, sob longos olhares pacientes, aquele pequeno orvalho medido, perfurado, enfiado para uma criatura de muito longe, desconhecida e inesperada, que um dia tinha de recebê-las aqui. [Cecília Meireles]

um pouco de beleza. para distrair.

galinhas pretas

eu: pai, você não sabe o que aconteceu
eu: na rodovia, tinha umas galinhas pretas
eu: uma delas bateu no meu retrovisor
ele: que galinha, menina? não eram urubus?
ele: galinha na rodovia? essa é boa agora
eu: ah eram umas galinhas pretas
ele: que galinhas pretas, eram urubus
eu: urubus?
eu: mas parecem com as galinhas eim
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eu conheci as galinhas na infância, mas eu não conhecia os urubus.

teorias

c: como te disse outro dia
c: o homem é muito mais apaixonado pela mulher que vice-versa
c: ouça luiza, do tom, que vc crerá em qq coisa novamente
c: vou te passar um link
p: adoro a tua teoria
p: eu preciso crer em qualquer coisa novamente!!!
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aqui. do you believe now?

tpm

um mal-estar que eu não tenho controle de tão hormonal alterou meu humor meu sono minha fome minha disposição minha rotina e em dias assim eu me reconheço pouco eu não funciono eu não consigo ler eu não consigo escrever eu perco a vontade de cozinhar de conversar e tem momentos eu não quero mais do que deitar no sofá ou no chão e ficar no sofá ou no chão até esse mal-estar passar
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pausa

achismo ou a discórdia é de graça

se me incomodasse o fato de que quando eu falo quem lê ou quem escuta interpreta o que quer e conclui o que quer eu não escrevia eu não falava mas eu sei e eu me divirto até com essa postura por já ter sido muito assim eu tenho tentado analisar menos concluir menos e o que eu analiso o que eu interpreto eu não falo eu sei que é uma possibilidade uma hipótese um talvez e que eu não preciso de uma resposta e depois eu acho que se analisar alguém e concluir não fosse de graça muitas pessoas falariam escreveriam quase nada []

horário de trabalho

Depois das treze poderei sofrer:
antes, não.
Tenho os papéis, tenho os telefonemas,
tenho as obrigações, à hora certa.

Depois irei almoçar vagamente
para sobreviver,
para agüentar o sofrimento.

Então, depois das treze, todos os deveres cumpridos,
disporei o material da dor
com a ordem necessária

para prestar atenção a cada elemento.
acomodarei no coração meus antigos punhais,
distribuirei minhas cotas de lágrimas.

Terminado esse compromisso,
voltarei ao trabalho habitual.
[Cecília Meireles]

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eu aprendi tarde que sentir dor em qualquer hora sem qualquer compromisso de esgotar essa dor e de distribuir todas as cotas de lágrimas é querer continuar com os punhais e com as lágrimas

vidinha

a teoria dos porcos é uma brincadeira de anos atrás e não tem quem diga infelizmente que não tem um pouco de sentido. com ou sem porcos, as relações seguem cada vez mais superficiais.

tem dias e noites que eu fico com preguiça de tanta superficialidade e em instantes assim eu prefiro limpar a lavanderia e a cozinha no fim da noite do que ficar com as fofocas e as futilidades.

além do fato de que não há saídas, eu não sei de mais nada).

Seção Trash

O quarto:
O porco híbrido: Esse é o porco que no decorrer de sua existência transita pelos três tipos anteriores, sendo que na adolescência é típico se tornar um porco safado; no começo da vida adulta, marcado por suas paixões frustradas, um porco elite, isso se tiver um certo poder aquisitivo e se tiver passado pelas melhores escolas, da vida ou essa institucional mesmo. Na fase adulta costuma então se tornar um porco vampiro, sendo que depois dos trinta anos se torna tri-polar, tendo episódios porco safado, porco vampiro e porco elite.
Esse é um porco que tende a tomar anti-depressivos, apresentando disfunção neuroquímica. Um porco extremamente carente e sempre em busca de atenção, os traços de sua personalidade ficam enfraquecidos, então ele se acha sedutor como um porco vampiro, mas é uma sedução bem mais frágil. O porco híbrido é um porco vulnerável e quer conquistar todos os porcos e pessoas do planeta, mas sempre os abandona assim como o porco elite, e chega então a depressão e os benzodiazepínicos também.

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fim.

Seção Trash

O terceiro:

O porco vampiro: Esse é um dos porcos mais temidos logo desejado. Atenção para o porco vampiro. Aqui se tem uma filiação ao mito milenar do vampiro, aquela figura sensual e envolvente sugadora de sangue. Mas o porco vampiro além de sugar seu sangue, suga sua alma também. O porco vampiro mascara as suas intenções, diferente do porco safado que deixa tudo às claras. Esse tipo de porco tem um prazer pérfido e sórdido de envolver a sua vítima.
Ele é o mais desejado entre os porcos, porque estabelece vínculo com o outro, claro que é um vínculo fictício e interessado, mas até então o outro não sabe. Ele se faz de amigo e gera uma situação onde a amizade é sexualizada. Ele dá presentes de todos os tipos, mas prefere os mais sutis por uma questão econômica. É possível que o porco vampiro estabeleça conversas pseudo-intelectuais-emocionais.

Quando ele consegue o que deseja, a sua satisfação sexual, ele não pára por aí. Chega o momento em que mostra seus dentes vampíricos e começa a sugação espiritual, vulgo porquice. Ele faz o que bem entende do outro, só então, depois de conseguir sua satisfação sexual, é que ele deixa claro que era só isso, que o outro nunca passou de um objeto. O outro então, quando tem bom senso, abandona o porco. Mas não é tão fácil assim, pois uma das características desse porco é a dissimulação. Ele volta ao primeiro estágio, o vampírico sedutor.

O porco vampiro não tem vergonha de correr atrás de sua vítima, ele faz questão de retomar a suposta relação que mantinha para satisfazer um outro aspecto, o seu aspecto narcísico. O porco necessita mostrar para ele mesmo a força do seu poder conquistador, enamorando mais uma vez o outro para depois repetir o processo. Ele é sádico, pois se satisfaz em degradar sua vítima e vê-la não somente sob o seu controle sexual, mas também emocional. A vítima nutre seu real afeto e fica cada vez mais presa no porco vampiro, e se ele vê a vítima se afastando dele, se desespera e usa recursos malignos para dominá-la novamente.

Alguns porcos vampiros podem chegar ao cúmulo de dizer “eu te amo”, tudo para a degradação maior da pessoa envolvida. O porco vampiro deseja manter o outro na reserva, até que estale os dedos e esse venha correndo substituir um outro. O porco vampiro ainda joga na cara da vítima as suas últimas conquistas e supostas “paixões” e até o que ele chama de “amor”, mas claro que o porco vampiro desconhece o amor, porque só cultiva amor por ele mesmo, amor doentio. Talvez esse seja o porco mais complexo, não desprezando a complexidade dos outros, porque frequentemente manifesta episódios psicóticos. (Vide o CID-10) [continua]

Seção Trash

O porco elite:

O porco elite foi muito bem educado, é culto e sabe o kama-sutra de cabo a rabo, no entanto insiste na porquice, mas é uma porquice facultativa. Esse é o único porco que tem estrutura e embasamento para deixar de ser. O porco elite não deixa de ser um porco ressentido, consciente disso ou não. Esse porco se comove com a porquice mundial ao mesmo tempo em que não consegue se livrar dela e não vê outro meio a não ser tornar-se um, apesar de existirem outros meios. Mas, meus amigos, eu confesso desconhecê-los.
O porco elite se preocupa com o prazer do outro, possui uma chance de evoluir para um outro animal qualquer, mas essa chance é mínima já que acaba se envolvendo com a própria espécie. O porco elite é sensível, um porco em busca de redenção quase nunca encontrada. Apesar de ser um fenômeno na cama e promissor fora dela, normalmente deixa essas características passarem propositadamente desapercebidas.
Ocorrem eventualmente algumas cretinices, característica comum a todos os porcos: o porco elite pode manifestar uma necessidade de auto-afirmação ao se envolver com os da mesma espécie ou até os falsos porcos, para assim poder abandoná-los a hora que bem entender. Esses porcos gostam de ficar sozinhos, afinal quem quer a companhia de outro porco? [continua]

agora

do lugar onde estou já fui embora [manoel de barros] e os círculos se repetem menos e menos desde que eu comecei a sentir ao contrário

blábláblá

cada dia mais eu entendo o que é indelicadeza o que é perder a chance de não dizer e de agredir verbalmente gratuitamente quem quer que seja com pontos de vista porque a verdade é pouca; ainda assim, eu me divirto com as diarréias verbais dos outros e com as minhas, quando eu tenho. eu precisaria levar a sério as pequenas frustrações e decepções de anos atrás antes de escrever sobre online e eu não levo mais mas ah os outros levam e eu me divirto viu.

Seção Trash

O primeiro:

O porco safado: É um porco que diz ao que veio e o pudor está ausente nesse tipo. Ele deixa claro que o sexo é sua única intenção. Foi o primeiro porco da humanidade, então esse seria o chamado porco legítimo. O porco safado não cultiva ilusões. Pode você pensar no final dessa leitura que esse é o melhor tipo de porco, mas não se engane. O porco safado não desenvolve sua simpatia, para ele não importa sentir com, mas um sentir solitário. Ou seja, ele está preocupado apenas com a satisfação dos seus desejos e para isso utiliza-se do outro. O outro para o porco safado é apenas um objeto utilizado seu prazer, sempre deixando claro suas intenções. Se formos analisar mais profundamente o porco safado, podemos dizer que ele tem um grande medo de sentir culpa, por isso é tão sincero e faz todo o possível para deixar evidente o seu querer. E se o seu querer for aceito, então ele se livra da culpa de ser o que é. O porco safado, quando bem aproveitado, lhe dá experiências sexuais que poderão num futuro ser utilizadas com um tipo não porco ou até um outro tipo de porco. E de acordo com M.P.F, o porco safado “não desenvolve pensamentos, é vazio.” [continua]

Seção Trash

Para entender o comportamento sexual contemporâneo criou-se a teoria dos porcos. Você deve estar se perguntando sobre a razão da escolha desse animal como símbolo, quando na verdade poderia ser outro qualquer, não? Explicar-lho-eis. O porco é um animal bonitinho de grande carisma até, contudo, como todos sabem ele vive na lama, na imundície, bonitinho mas nojento, eis o motivo da escolha. No momento foram identificados quatro tipos de porcos, mas acredita-se que existam mais. Quero ressaltar que quando se fala em porcos, pode-se ler também porcas. Contenham as identificações, por favor. Hoje apresentarei o PORCO SAFADO, o PORCO ELITE e o PORCO HÍBRIDO. No domingo se possível, como presente de natal, apresentarei o porco mais PERIGOSO e mais ENVOLVENTE. Para esse, será dedicado um post exclusivo e especial, trata-se de o PORCO VAMPIRO. [continua]

título: teoria dos porcos

ano: 2005
autoria: vandia leal
co-autoria: paula

falta

ano passado teve dias que tudo que eu queria era um pouco de silêncio e agora que eu consegui eu não sei o que pensar e eu ainda não acostumei mas eu prefiro assim
o que eu não gosto é de quase não conseguir perceber literatura nesse dia-a-dia talvez eu tenha me acostumado com as minhas incertezas e com as minhas perguntas

instantâneo

life as it is

um peso. quando corresponder é um verbo improvável, impossível.

mais aqui.