segunda-feira, 23 de junho de 2008

OS DESLIMITES DA PALAVRA

Este ermo não tem nem cachorro de noite.
É tudo tão repleto de nadeiras.
Só escuto as paisagens há mil anos.
Chegam aromas de amanhã em mim.
Só penso coisas com efeitos de antes.
Nas minhas memórias enterradas
Vão achar muitas conchas ressoando...
Seria o areal de um mar extinto
Este lugar onde se encostam cágados?
Deste lado de mim parou o limo
E de outro lado uma andorinha benta.
Eu sou beato nesse passarinho.
[manoel de barros]

nos dias que a vida tem pouca literatura é quando eu percebo que o dia-a-dia não se confunde com literatura e que eu tenho o costume de inventar de enxergar literatura no dia-a-dia. em dias assim eu não sei mais o que tem importância e qualquer mágoa qualquer raiva qualquer estresse são tão pequenos que eu só consigo pensar em exagero e em bobagem. em dias assim eu paro de pensar as coisas com efeitos de antes pra conseguir perceber os aromas de amanhã.