terça-feira, 29 de dezembro de 2009

vícios

outro dia eu escrevi que parei de fumar e parei mesmo mas três semanas mais tarde (depois de duas cervejas, e mais algumas desculpas) eu acendi um cigarro e voltei a fumar. hoje comecei a tomar esse remédio que, além de diminuir a minha ansiedade, ajuda na dependência da nicotina. se não parar agora, eu não paro mais. é o que eu sinto, pelo menos. até não parar com esse remédio, não posso beber, o que é ótimo, assim as tentações são poucas e as chances de voltar a fumar diminuem. quando chegar em casa, jogo fora os isqueiros. a idéia de não fumar mais ainda é estranha mas eu não quero mais saber de vícios que alteram o meu humor, obrigada.

domingo, 27 de dezembro de 2009

dias cinzas

quem lê esse blog sabe que procuro humor (sempre) até onde não tem mas às vezes o humor é pouco e toda nicotina toda cerveja toda distração não é suficiente. e não há saída. até o lugar onde mais gosto de ir, hoje eu não suportei. é o que escapa, é a rapidez, é a falta de controle, é o excesso de informação, até de superfície. tudo o que consigo é lembrar de um poema sem título do álvaro de campos (esse) e de esperar. além disso, preciso de muita paciência.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

excesso

um garçom do bar que frequento toda semana ou quase disse que pediu demissão e eu falei vai ser estranho vir aqui e não te encontrar mais e logo depois eu fiquei chateada com a idéia de ir ali e não encontrar mais com ele ainda que eu não fale sempre com ele ainda que eu vá mudar de cidade daqui a pouco e lembrei que anos atrás eu encontrava um senhor quase todo dia de manhã antes da aula e depois de um tempo era quase como se conhecesse a pessoa e quando não encontrei mais porque comecei a acordar mais tarde eu consegui mesmo uma espécie de estranhamento]. é, eu sou esse tipo de pessoa. tudo é rápido demais. eu não sei, de verdade, o que fazer disso. e é tanto álcool e é tanta nicotina e é tanta ânsia de vômito que eu não saberia o que fazer ainda que quisesse começar.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

sobre desejo, impulso e compromisso

[do livro amor líquido]

Com a ação por impulso profundamente incutida na conduta cotidiana pelos poderes supremos do mercado de consumo, seguir um desejo é como caminhar constrangido, de modo desastrado e desconfortável, na direção do compromisso amoroso. Em sua versão ortodoxa, o desejo precisa ser cultivado e preparado, o que envolve cuidados demorados, a árdua barganha com consequências inevitáveis, algumas escolhas difíceis e concessões dolorosas. Mas, pior que tudo, impõe que se retarde a satisfação, sem dúvida o sacrifício mais detestado em nosso mundo de velocidade e aceleração. Em sua reencarnação radical, aguçada e sobretudo compacta como impulso, o desejo perdeu a maior parte de seus atributos protelatórios, enquanto focalizava mais de perto o seu alvo. Tal como nos comerciais que anunciavam o surgimento dos cartões de crédito, agora não precisamos mais esperar para satisfazer nossos desejos. [Bauman]

o desejo já não é passível de ser protelado, adiado. o desejo é antes compulsivo. ele exige a sua satisfação, o mais rápido possível. a satisfação, por sua vez, é instantânea, adiável. tudo junto. eu tenho um desejo. eu consigo o que quero. eu consegui mesmo? ou queria mais?...o que eu quero mesmo?. o que quero, ainda, é tranquilidade, antes até do amor. leio mais: compromisso não é "garantia de segurança", "solução de seus problemas", "é uma dor de cabeça, não um remédio". além disso, implica "uma incerteza permanente" e insegurança a respeito daquilo que se faz ou de "ter feito a coisa certa ou no momento preciso". tudo que, por enquanto, ainda me assusta. porque é tão fácil ir ali e acender um cigarro e tomar uma cerveja sozinha ou com um amigo sem insegurança e sem procura de sinais de interesse ou da falta de interesse de alguém por mim que amanhã eu vou ali acender um cigarro tomar uma cerveja e comemorar que a única certeza que tenho é a de que me interesso e a de que estou sempre aqui, independente do que eu faço e quando.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

instantaneidade

[do livro o mal-estar da pós-modernidade]

Um lado da transformação dos nossos dias é o desemaranhamento do sexo do denso tecido de direitos adquiridos e deveres assumidos. Nada retém melhor esse aspecto do que os conceitos de "sexualidade plástica", "mero relacionamento" e "amor confluente", todos cunhados por Anthony Giddens. Nada resulta do encontro sexual, salvo o próprio sexo e as sensações que acompanham o encontro; o sexo, pode-se dizer, saiu da casa familiar para a rua, onde apenas os transeuntes acidentais encontram quem - enquanto encontram - sabe que mais cedo ou mais tarde (antes mais cedo do que mais tarde) seus caminhos são obrigados a se separar novamente. [Bauman]

é isso. em um dia, aventuras sexuais. no outro, oi, quando muito. o que fica do encontro é o sexo, de verdade, e o que se sentiu no momento do encontro. então é quase um disparate querer manter contato com o outro depois. e, aqui, eu falo de amizade. como se o fato de o objetivo final não ser o sexo tornasse desnecessário começar qualquer conversa sobre qualquer assunto. como se fosse impossível se aproximar de alguém pelo prazer da companhia, da conversa, da diversão. por outro lado, encontrar alguém, nesse mundinho onde tudo é líquido, é saber, até quando não se sabe, que, mais cedo ou mais tarde, independente da vontade de manter contato, cada um segue sua vida, em direções geralmente opostas. e não há o que possa ser feito. e não há mágoa ou raiva a sentir. então,
let it go.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

comidinha

meu jantar de ontem. e de hoje. batata com queijo. 800g de batata. 215g de queijo st agur. 240g de mussarela. 200ml de creme de leite. 2 colheres (sopa) de limão. em uma panela, refoguei cebola e alho no óleo, depois coloquei parte do creme de leite. em uma vasilha à parte, amassei o st agur no restante do creme de leite junto com o suco do limão. em seguida, a montagem: batata, creme de leite, mussarela, st agur, batata, creme de leite, mussarela, st agur. diquinha: pode-se colocar 200g de st agur e depois, ao repetir a dose, derreter, ao lado da batata, o que sobrou. não preciso dizer o quanto fica bom. pra acompanhar, uma weihenstephaner hefe weissbier. tomaria uma leffe blonde, mas não tinha no mercado.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

repetir

tudo é de outro jeito. as pessoas, inclusive. parece tão óbvio, tão simples, mas não é. sempre esperei que fosse do jeito que eu queria. e eu ficava chateada quando não era. ou seja, eu estava chateada quase sempre. então eu procuro lembrar. e repetir, até que seja natural. já li: "repetir, repetir - até ficar diferente. repetir é um dom do estilo". [manoel de barros] e eu concordo tanto. então repito:

sábado, 12 de dezembro de 2009

quase

em matéria de relacionamento, eu sempre fui um fiasco. quando criança, as paixões platônicas. mais tarde, quando apaixonada, não sabia até onde eu podia ir, nem quando eu tinha que ir embora. então eu não confiei mais em mim. fiquei com medo de me interessar por alguém e não conseguir reconhecer que a pessoa podia não me oferecer o que eu procurava e que a vida tinha que seguir. nesse meio tempo, a vida continuou. e o meu medo também. até que alguém interessante aparece. e aí é só alegria. explico: eu cheguei a um grau de desconfiança de mim e de medo que o simples fato de admitir que alguém me interessou e de demonstrar interesse é muito maior do que o interesse ou a falta de interesse da pessoa. além disso, tem aquele trecho do poema de canção sobre a esperança, do álvaro de campos: "se não nos encontrarmos, guardarei o momento em que pensei que poderíamos nos encontrar". esse momento, eu gosto de guardar. é quase um sopro de otimismo, de esperança. agora eu procuro ir até onde o outro me deixa ir, não quero mais espaço do que o que me é dado, e se pouco espaço me é dado, eu guardo o momento em que eu quis (sim!) ter mais espaço.