sexta-feira, 28 de setembro de 2007

A máquina de Morel*

*contém spoiler!. se não leu o livro, não leia o texto depois do trecho. já aviso.

Aparecem de vez em quando. Ontem, vi Haynes na beira da colina; dois dias atrás, Stoever, Irene; hoje, Dora e as outras mulheres. Impacientaram-me a vida; se quiser organizá-la, terei que afastar essas imagens de minha atenção. Destruí-las, destruir os aparelhos que as projetam (sem dúvida estão no porão) ou quebrar o tambor são minhas tentações favoritas; contenho-me, não quero me ocupar desses companheiros de ilha, pois me parece que não lhes falta matéria para se converterem em obsessões.
____a invenção de morel, adolfo bioy casares
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Reprodução invertida de um ser ou de um objeto, transmitida por uma superfície refletora. Reprodução estática ou dinâmica de seres, objetos, cenas, et cetera, obtida por meios técnicos. Réplica. Reflexo. Representação. Imagem. A máquina de Morel, composta de receptores, gravadores e projetores, gravou sete dias da vida de Faustine, Jane, Irene, Alec, Dora, Haynes, Stoever e do próprio Morel. Os dias gravados são reproduzidos quase todo dia pela máquina em uma ilha deserta do Pacífico. O narrador, a princípio, não percebe que os visitantes da ilha são imagens, imagens de pessoas, e não pessoas de carne e osso. Assim que ele descobre, a repetição de várias cenas ganha significado. Essas imagens sentem? Essas imagens existem? As pessoas que foram gravadas estão vivas ou já morreram?, são algumas das perguntas que perseguem e atormentam o narrador do livro "A invenção de Morel", do escritor argentino Adolfo Bioy Casares.