quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Notas Semanais


O Cruzeiro anunciou que um dos nossos mais hábeis confeiteiros medita coligir todas as suas (receitas), em volume de mais de trezentas páginas, que dará à luz, oferecendo-os às senhoras brasileiras. É fora de dúvida que a literatura confeitológica sentia necessidade de mais um livro em que fossem compediadas as novíssimas fórmulas inventadas pelo engenho humano para o fim de adoçar as amarguras deste vale de lágrimas. Tem barreiras a filosofia; a ciência política acha um limite na testa do capanga. Não está no mesmo caso a arte do arroz-doce, e acresce-lhe a vantagem de dispensar demonstrações e definições. Não se demonstra uma cocada, come-se. Comê-la é defini-la. No meio dos graves problemas sociais cuja solução buscam os espíritos investigadores do nosso século, a publicação de um manual de confeitaria só pode parecer vulgar a espíritos vulgares; na realidade, é um fenômeno eminentemente significativo. Digamos todo o nosso pensamento: é uma restauração, é a restauração do nosso princípio social. O princípio social do Rio de Janeiro, como se sabe, é o doce de coco e a compota de marmelos. (...)
_______notas semanais, machado de assis
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quando o cinismo e a ironia escorrem de um texto