quinta-feira, 24 de julho de 2008

POESIA INDIGESTA]


Prisão de ventre é um drama não descrito
em prosa ou poesia, desde Homero.
Por isso meter meu bedelho quero
no bojo deste tão tácito mito.

Quem tem seu intestino assim constrito
defeca sob esforço tão severo
que rompe internamente o tubo "entero"
para externar um "copro" que é já "lito".

Cagada semanal ou quinzenal
é como um parto sem anestesia
em que o bebê não quer nascer normal.

Enquanto a tripa inchada se alivia,
o pobre constipado lê o jornal,
absorto na seção de economia.
[glauco mattoso]

esse poema é o soneto 112 obstipado do glauco mattoso, pseudônimo do poeta pedro josé ferreira da silva, presente no livro libertinos e latrinários, publicado na obra poesia digesta (2004). poesia digesta (2004) reúne sonetos decassílabos e poemas em vários formatos escritos por glauco mattoso entre 1974 e 2004. o livro libertinos e latrinários é uma série de sonetos sobre sadomasoquismo, fetichismo, podofilia, coprofagia, prisão de ventre, peido, arroto, furúnculos na pele, fimose, sexo oral, anal, e continua. é um livro de escatologias. com um humor negro, excêntrico ou bizarro mesmo. os poemas são indigestos, alguns nojentos. apesar de uma dose de escatologia, a leitura desse livro é divertida, em parte pela criatividade do glauco mattoso, em parte porque o soneto é empregado não pra falar de amor, de paixão e de angústias, mas de merda, peido, arroto, xixi, mau cheiro, ou seja, temas incomuns.