sábado, 30 de agosto de 2008

O CAVALO PERDIDO

Celina nem sempre entra na lembrança como entrava pela porta de sua sala: às vezes entra já estando sentada ao lado do piano, ou no momento de acender o abajur. Eu mesmo, com meus olhos de agora, não a recordo: recordo os olhos que naquele tempo a olhavam; aqueles olhos transmitem a estes suas imagens; e também transmitem o sentimento em que as imagens se movem. Nesse sentimento há uma ternura original. Os olhos do menino estão assombrados, mas não a olham fixamente. Celina tão logo esboça um movimento, já termina de fazê-lo; mas esses movimentos não roçam nenhum ar em nenhum espaço: são movimentos de olhos que recordam. [felizberto hernández]

as memórias são brincadeiras de olhos que não esquecem] que distorcem] quase medo de esquecer e de não saber o que pensar