quinta-feira, 26 de junho de 2008

FOTOGRAFIAS

Para Barthes, a escritura seria uma tentativa de salvar os seus da morte, de preservar a memória desses, eternizá-los como num monumento. Como escreveu Derrida, o discurso de luto tenta falar a esse amigo, interiorizá-lo em nós e para nós, é também uma tentativa de fazê-los falar através de nós, falar o outro post mortem. [mc]
se o desejo do sujeito de se eternizar por se saber não-eterno é o que move a escritura o que a escritura guarda é um outro sujeito a memória de um sujeito que quis guardar o que estava sendo. eu me pergunto como que as pessoas gostam de se reconhecer em outras pessoas quando depois de um intervalo de tempo não conseguem se reconhecer e se espantam com o que eram. qualquer fotografia pede um olhar ajustado com humor desde quando fotografa o que já não é.

PRAZER

eu esperei o dia inteiro pelo momento de esfirras de banana com canela e de chocolate quente com bolinhas de nescau eu sabia que a canela na banana e as bolinhas de nescau no chocolate são um prazer imediato e cada vez que eu pensava em outros momentos de esfirras de banana com canela e de chocolate com nescau o que eu queria era ressentir esse prazer prolongar esse prazer me divertir com esse prazer pelo tempo que durasse sem questionar a duração do tempo desse prazer ou as calorias da banana e do chocolate [ ]

segunda-feira, 23 de junho de 2008

OS DESLIMITES DA PALAVRA

Este ermo não tem nem cachorro de noite.
É tudo tão repleto de nadeiras.
Só escuto as paisagens há mil anos.
Chegam aromas de amanhã em mim.
Só penso coisas com efeitos de antes.
Nas minhas memórias enterradas
Vão achar muitas conchas ressoando...
Seria o areal de um mar extinto
Este lugar onde se encostam cágados?
Deste lado de mim parou o limo
E de outro lado uma andorinha benta.
Eu sou beato nesse passarinho.
[manoel de barros]

nos dias que a vida tem pouca literatura é quando eu percebo que o dia-a-dia não se confunde com literatura e que eu tenho o costume de inventar de enxergar literatura no dia-a-dia. em dias assim eu não sei mais o que tem importância e qualquer mágoa qualquer raiva qualquer estresse são tão pequenos que eu só consigo pensar em exagero e em bobagem. em dias assim eu paro de pensar as coisas com efeitos de antes pra conseguir perceber os aromas de amanhã.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

metric

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quinta-feira, 19 de junho de 2008

LAVOURA ARCAICA

"rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele, devasso, que se estende, mãos e braços, em terras largas; rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é" [raduan nassar]

para não comprar ilusões; antes de sentir, eu preciso de mais espera
eu não quero encontrar o que quem não é por expectativa por pressa

quarta-feira, 18 de junho de 2008

MEDO

eu preciso compartilhar o meu azar] eu fui no centro da cidade com minha mãe o que eu nunca faço e quando eu passei pelo banco do brasil com o objetivo de pegar o carro no estacionamento ali perto e chegar em casa o mais rápido possível de repente eu não consigo enxergar mais nada e eu sinto um frio e eu percebo que me jogaram um balde de água de um prédio é sério e quando olho a roupa da minha mãe eu vejo que a minha mãe ficou ensopada a ponto de precisar trocar de blusa no banheiro do estacionamento e eu já começo a rir que é melhor rir que chorar não é mesmo minha gente

ESTE SOPRO SE DESENHA

[zuza] e as memórias se inscrevem em suportes de tão inventadas

terça-feira, 17 de junho de 2008

LUZ, ILUMINA MEU CAMINHO

[zuza] eu não sei quando eu fiquei cínica mas eu brinco tanto com o que eu vejo e com o que eu sinto que eu não sei mais se é de verdade o que eu vejo e o que eu sinto o que é mais do que incômodo eu ainda não sei o que fazer de tudo ser de outro jeito desde sempre por ter acostumado a enxergar o que e como eu queria

segunda-feira, 16 de junho de 2008

NO PORN

baile de perua; o clima é dramático e fake, fake, fake. eu descobri essa banda ontem na programação do festival internacional de teatro da minha cidade e eu não preciso dizer que eu vou no show, o som é ótimo e as letras das músicas são muito engraçadas. mais aqui.

terça-feira, 10 de junho de 2008

CASOS DE FAMÍLIA

ela quase não acreditou quando a amiga entrou na cozinha com um pacote com o formato do eletrodoméstico que ela mais queria: um microondas. branco. tamanho médio, razoável. nunca usado. enquanto ela tirava o presente do pacote, ela já podia sentir o cheiro de todos os pratos de comida que ela cozinharia, esquentaria ou descongelaria em seu microondas. arroz feijão carnes legumes tortas sopas. outros pratos. o que fosse. ela ficou tão feliz que por mais que ela tentasse entender o manual de instrução ela enxergava apenas letras soltas e palavras confusas, difíceis de entender, até que leu o enunciado "retire o lacre antes de usar" e com toda a força que conseguiu reunir, retirou com as duas mãos o lacre do seu microondas: a placa metálica que ia permitir que os alimentos fossem cozinhados, esquentados ou descongelados com a rapidez que ela tanto queria. os alimentos que ela sentia o cheiro e quase experimentava o gosto, mas parou de sentir e não chegou a experimentar, porque a amiga gritou que o lacre que ela tinha que tirar era o plástico colocado em volta do prato giratório de vidro.
o que ela quase não acreditava agora era no seu azar e na infelicidade e na angústia que ela sentiu quando a amiga, inconformada, irritada, levou o microondas quebrado da sua cozinha.


esse conto foi encomendado por duas amigas que me narraram essa estória contada no programa casos de família, do sbt, tema: "ela é atrapalhada". hoje em dia, tem só um prato de vidro dentro do microondas, aquele em que as vasilhas são colocadas em cima, mas antigamente tinha uma placa metálica e foi essa placa que a mulher entendeu que era o lacre e arrancou com as mãos quando ela só tinha que tirar o plástico em volta do prato de vidro. ou seja, ela confundiu o que era lacre e conseguiu quebrar o microondas.

texto: casos de família
tipo: narração da narração da narração
colaboradoras: tatiana barcellos, sandra regina

domingo, 8 de junho de 2008

LEITURAS

mais do que entender a minha necessidade de ser lida por alguém eu prefiro saber que texto eu quero que seja lido por alguém por que pra que desde quando texto não é verdade ou decreto e tem mais o sentido que o leitor imagina que aposta que ou ainda inventa que

sexta-feira, 6 de junho de 2008

torta de farinha de milho


Ingredientes:
2 xícaras (chá) de leite
1/2 xícara (chá) de óleo
3 ovos
1 e 1/2 xícara de chá de farinha de milho
50g de queijo parmesão
tempero de alho e cebola
1 colher (sopa) de fermento em pó
2 xícaras (chá) de frango desfiado
200g de requeijão cremoso
1 lata de ervilha
brócolis
2 tomates
azeitonas picadas

Separe a farinha de milho em uma panela e misture com um pouco de água fervendo e mexa até a farinha ficar com a consistência de polenta. Jogue no liquidificador o leite, o óleo, os ovos, a farinha de milho fria, metade do parmesão e os temperos de alho e cebola. Depois de bater, adicione o fermento e misture. Despeje em uma vasilha untada e enfarinhada metade da massa e depois o frango, ervilha, brócolis, parte do parmesão, requeijão, tomate e azeitonas. Cubra com a outra metade da massa e polvilhe com o que sobrou do parmesão. Leve ao forno médio, preaquecido, até a torta dourar.
Se a vasilha usada para fazer a torta for média e pouco funda, recomendo fazer metade da receita. O gosto da massa lembra creme de milho, mas a massa não fica mole igual o creme de milho. Bom apetite!.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Seção Infantil

a bela dormecida

A bela adormecida gostava de ficar no butéco com suas amigas e tomava todas vou taro para a casa de mobiléte chegaro na casa dela tinha que cuzinhar mas ela ia dormir todos os dias ela não toma banho so de sabado e ainda tomava banho no corgo. Ela andava descausa, não cortava as unhas ia na lan-house jogar CS. Ela tinha um namorado andarilio eles iam no bingo com o dinheiro da latinha e gastava tudo ele comia comida do lixo. Quando ela estava vindo embora achou R$00,50 e foi direto no buteco comprar uma dose e conhaque ai eles foram embora para obarraco dormir. No outro dia retornou ao buteco para tomar cerveja quando ele estava indo ela achou uma pasta cheio de dinheiro e resolviu abrir um buteco ele arromou o boteco e não durou uma semana e foi a falência por que ela tomava todas. Ela pensou e dise eu vou sair desa vida de bebada e foi embora no meio do camim ela foi atropelada. [waldir, 6ª série]

isso é que é um conto de fada às avessas; no meio do caminho, uma pedra.

FALTAS


responsabilidade. 1.obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros. 2. caráter ou estado do que é responsável. para lembrar sempre o que significa essa palavra desde quando algumas pessoas não se responsabilizam não respondem pelas suas próprias ações.

PREGUIÇA

depois de uma semana de tpm hoje eu quase não tenho ânimo de existir e na geladeira pós-descongelada tenho apenas três ovos, dois tubos de ketchup, um tubo de mostarda que eu não uso, metade de uma goiabada, meio litro de leite e 600 ml de coca zero. não, eu não tenho água. eu culpo meus hormônios por tanto vento na geladeira. precisa-se de governanta?; antes que o almoço seja bolacha de água e sal ou macarrão com molho de tomate, eu tenho que ir às compras.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

PÉROLAS

[diálogo absurdo]

a: tá mais frio aí do que aqui
p: mas comprei agasalhos de linha
p: de teflon
[um pouco depois]
p: aquelasss
p: teflon não é aquela panela?
a: é
a: revestimento de panela
a: como assim, blusa de teflon?


1. teflon não é panela.
2. eu quis dizer nylon.

domingo, 1 de junho de 2008

NOTAS DO SUBTERRÂNEO

Entre as lembranças que cada um de nós traz consigo, algumas há que só contamos aos amigos. Outras, nem aos amigos revelaríamos, mas apenas a nós mesmos e ainda assim em segredo. Finalmente, há outras coisas que o homem tem medo de contar até a si mesmo, e cada homem honesto conserva bom número dessas lembranças guardadas em sua mente. [dostoiévski]

eu preciso de outros olhares para reinventar as minhas memórias