quinta-feira, 31 de julho de 2008

blábláblá

eu já disse que eu me divirto com as pessoas? eu não me incomodo com palavras faz tempo ou menos do que cinco minutos. com palavras, dependendo de quem fala, quanto mais tempo de incômodo, mais perda de tempo. eu gastava energia demais, com palavras. hoje eu cronometro esse tempo. então agora eu vou dizer:

sábado, 26 de julho de 2008

MOVIMENTO

eu não sei quando a tela do computador ganhou movimento] agora cada ícone cada barra de ferramenta cada site se movimenta junto com a tela do computador] eu já não sei se é a tela se é excesso de antibiótico se é o meu olhar] eu tenho medo de olhar do lado] de ver qualquer objeto em movimento] eu não sei o que fazer de a tela estar em movimento] se eu insisto em olhar eu não aguento esse vaivém] talvez seja o meu olhar (e cansaço)] eu perco cada vez mais de vista o foco] eu não sei o que vou ver depois das formas] eu não entendo de formas] quer dizer, eu nunca soube o que fazer de formas]

quinta-feira, 24 de julho de 2008

POESIA INDIGESTA]


Prisão de ventre é um drama não descrito
em prosa ou poesia, desde Homero.
Por isso meter meu bedelho quero
no bojo deste tão tácito mito.

Quem tem seu intestino assim constrito
defeca sob esforço tão severo
que rompe internamente o tubo "entero"
para externar um "copro" que é já "lito".

Cagada semanal ou quinzenal
é como um parto sem anestesia
em que o bebê não quer nascer normal.

Enquanto a tripa inchada se alivia,
o pobre constipado lê o jornal,
absorto na seção de economia.
[glauco mattoso]

esse poema é o soneto 112 obstipado do glauco mattoso, pseudônimo do poeta pedro josé ferreira da silva, presente no livro libertinos e latrinários, publicado na obra poesia digesta (2004). poesia digesta (2004) reúne sonetos decassílabos e poemas em vários formatos escritos por glauco mattoso entre 1974 e 2004. o livro libertinos e latrinários é uma série de sonetos sobre sadomasoquismo, fetichismo, podofilia, coprofagia, prisão de ventre, peido, arroto, furúnculos na pele, fimose, sexo oral, anal, e continua. é um livro de escatologias. com um humor negro, excêntrico ou bizarro mesmo. os poemas são indigestos, alguns nojentos. apesar de uma dose de escatologia, a leitura desse livro é divertida, em parte pela criatividade do glauco mattoso, em parte porque o soneto é empregado não pra falar de amor, de paixão e de angústias, mas de merda, peido, arroto, xixi, mau cheiro, ou seja, temas incomuns.

terça-feira, 22 de julho de 2008

UMA FACA SÓ LÂMINA

A

Seja bala, relógio,
ou a lâmina colérica,
é contudo uma ausência
o que esse homem leva.

Mas o que não está
nele está como uma bala:
tem o ferro do chumbo,
mesma fibra compacta.

Isso que não está
nele é como um relógio
pulsando em sua gaiola,
sem fadiga, sem ócios.

Isso que não está
nele está como a ciosa
presença de uma faca,
de qualquer faca nova.

Por isso é que o melhor
dos símbolos usados
é a lâmina cruel
(melhor se de Pasmado):

porque nenhum indica
essa ausência tão ávida
como a imagem da faca
que só tivesse lâmina,

nenhum melhor indica
aquela ausência sôfrega
que a imagem de uma faca
reduzida à sua boca,

que a imagem de uma faca
entregue inteiramente
à fome pelas coisas
que nas facas se sente.
[joão cabral de melo neto]

uma faca só lâmina (1955), de joão cabral de melo neto, é um livro com onze estrofes sobre uma faca, a lâmina de uma faca, que depois se revela uma metáfora do vazio. para o poeta, o vazio corresponde à uma lâmina afiada de faca presente no corpo como parte do seu esqueleto, uma lâmina cortante, com fome de presenças. essa lâmina afiada às vezes pode não cortar o corpo, mas, por fazer parte do seu esqueleto, mais cedo ou mais tarde vai cortá-lo, nele destilando "azia" e "vinagre". ironicamente, o vazio é definido como uma presença. uma faca. a lâmina de uma faca, no corpo. o que temos, assim, são instantes em que a fome da lâmina se aplaca e o corpo não sente a angústia provocada pelo seu corte.

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eu procurei esse livro no google e eu até coloquei o link aqui, mas eu conferi o poema que eu tinha transcrito aqui no livro duas águas (1956) e, além de faltar uma parte, faltavam dois verbos. se alguém quiser ler esse livro, fica a dica que não é confiável ler na internet.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

ESQUECER

eu diria que o verbo esquecer é o verbo que mais tem brincado comigo nesses tempos; eu escrevi dois textinhos semana passada em papel e eu esqueci os papéis em outra bolsa em outra cidade.
eu não sei quando eu vou pegar esses papéis, mas até lá eu atualizo aqui, eu estou lendo um livro de contos uruguaios, o cavalo perdido e outros contos, do felisberto hernandez e é um livro muito incrível.
até já

sexta-feira, 11 de julho de 2008

pesadelo

noite passada foi a minha vez de dormir mal e de ter pesadelos; eu sonhei que eu fui lavar o meu apartamento e no canto da cozinha tinha uma série de baratas, eu queria matar as baratas, mas eu não encontrava o veneno, eu jogava água em mais de meia dúzia de baratas que eu pensava que já tinham morrido e essas baratas se mexiam e fugiam e apareciam outras baratas em outros móveis do meu apartamento. as baratas eram tão rápidas que eu não conseguia matar com o chinelo [quando eu conseguia eu esmagava as baratas no chão] [mas já apareciam outras em outros cantos do apartamento] uma hora eu comi o veneno de barata, era um veneno sólido, tinha o aspecto de um bolo com granulados azul em cima e eu não lembro se o veneno era ruim. era como se em cada fundo de gaveta tivesse uma ou mais baratas e eu queria comprar mais veneno e não conseguia e eu queria matar as baratas com o chinelo e eu não conseguia. eu odeio baratas. hoje não foi um dia bom, parte da culpa é desse pesadelo. eu acordei péssima. alguém, no mundo, consegue ter um dia bom depois de um pesadelo com baratas?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

SUB-LITERATURA

as árvores sabem que estamos de passagem, que não viemos para ficar. esperam e observam nosso movimento. elas se movimentam com o vento, com o ruído dos animais, todos de passagem. observam e presenciam a morte de suas irmãs, que são carregadas em caminhões para serem transformadas em revistas, em móveis, em casas. quando uma árvore tomba ela deixa uma presença, que ampara as outras árvores. estão em toda parte, muitas delas latentes, aguardando para despertar num mundo novo, melhor, sem homens ou suas sombras. estão em contato com outros mundos, outros planetas, outros povos. [sub-literatura]


as árvores são muito espertas, sabem de inconstâncias e de perdas e que os sentimentos estão mais do que passagem e por isso se divertem o quanto podem com exageros e com angústias-construção
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mais aqui. esse é um dos blogs mais bonitos que eu conheci nas últimas semanas e com um texto muito criativo e muito interessante.

RECOIL

drifting, música sexy.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

ASDRUBAL EQÜINO

eu descobri agora pouco as tirinhas da chiquinha em algum post no site do allan siber, aqui, e eu já viciei, de verdade. clica aqui e se divirta com mais asdrubal equino e com outras tirinhas da chiquinha.

domingo, 6 de julho de 2008

APONTADOR

Nunca acertava o momento de largar o apontador. Apontava duas voltas e parava, via que a ponta do lápis estava boa, mas ainda não era ideal e continuava. Mais duas voltas, as tiras da madeira se amontoando na classe e pensava que poderia avançar mais um pouquinho. No meio da última volta, quando suspirava de satisfação, o grafite quebrava. Não absorvia a lição, e recomeçava. O capricho me impelia: arredondar a cabeça, afiar a pequena lança de meus deveres escolares. Não encontrava a hora de cessar, confiava que acertaria na próxima tentativa e fracassava. A ponta perfeita terminava presa no apontador de metal. O lápis ia diminuindo. E recomeçava até admitir que minha letra não deslizaria como desejava, ficaria borrada e que somente o uso abrandaria as lascas. [carpinejar]
jogar fora o apontador de metal e parar de apontar o que quem quer que seja antes que só fique a madeira e depois menos que a madeira

sexta-feira, 4 de julho de 2008

CASOS DE FAMÍLIA


quando o circo acabou, ela era pura felicidade com o namorado ao seu lado. tinha sido um programa romântico. ela estava, mesmo, apaixonada. o que aconteceu a seguir estava fora dos seus planos e ela não poderia prever. tumulto. ameaças. gritos. o seu namorado estava sendo ameaçado por uma gangue de apanhar até que o seu corpo inteiro quebrasse. ela não conseguiu entender o motivo das ameaças e foi só o tempo de correr junto com o namorado antes que ele apanhasse. quando não agüentavam mais correr e escutaram vozes perto deles, ela teve uma idéia: tinha visto em muitos filmes a mulher jogar o homem na parede quando ele corria perigo e beijar com toda força pra que ele não fosse visto por quem ameaçava e não apanhasse. depois de explicar que se os dois se beijassem e se agarrassem em um canto eles não seriam vistos pela gangue e ele não apanharia, eles se beijaram e se amassaram com medo e cada vez com mais pânico quanto mais a gangue se aproximava e ela só percebeu que o seu plano não poderia funcionar fora das telas do cinema quando foi jogada no chão por alguém um pouco antes do seu namorado ser espancado até não agüentar mais de tanta dor.

texto: casos de família
tipo: narração da narração da narração
colaboradoras: tatiana barcellos, sandra regina

quinta-feira, 3 de julho de 2008

ORGASMO

[pryscila]

mais tirinhas, aqui. eu me diverti com essa e outras tirinhas sobre a britânica que sofre da síndrome da excitação sexual permanente.

PROJETOS

mentira. 1. afirmação de algo não verdadeiro para enganar ou iludir alguém; 2. o que tem aparência de real; ilusão. ficção. 1. ato de fingir ou seu efeito; 2.produto da imaginação; 3. história inventada.
eu não sei mais de limites entre mentira e ficção desde quando tudo o que se pensa tem a aparência de real por mais que às vezes ou quase sempre seja ilusão com produtos e com efeitos de verdades

quarta-feira, 2 de julho de 2008

CIRCUITO FECHADO

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, provas de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista, quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. [ricardo ramos]


quando a solidão fica acompanhada de papéis, de canetas, de livros, de telefones, de maços de cigarros e caixas de fósforos, de rotinas.

INTERVALO

eu escutei a música do juarez maciel na televisão em uma madrugada de muita insônia uns quatro anos atrás e desde então eu escuto a música dele e eu gosto demais da música dele. mais aqui.

terça-feira, 1 de julho de 2008

INTERVALO

julho, quase férias, tempo frio, humor um pouco cinza. dor de garganta. enxaqueca. ânsia de vômito. um cansaço sem olheiras, antigo, de não sei o quê. de olhares repetidos, bem capaz. ainda não consegui me acostumar com dias de poucos ressentimentos e de poucos estresses; é estranho perceber que é possível o vício por altos e baixos, por tensão, e continua. eu viciei, trazia emoção.
agora é desviciar e reinventar prazeres e procurar emoção em tranquilidade, em silêncio. quase não tenho tido vontade de dizer e de escrever, ainda mais em dias assim. prefiro ficar quieta e brincar o quanto antes com o que penso e não perder o humor. mágoas, raivas, estresse, tensão, são sentimentos que não gosto mais de investir em. eu passo. justamente por ser fácil demais.